20 outubro 2014

Despedida.

 fedora

Desculpa por não ter me despedido antes de partir. É sério, eu bem que queria, mas eu sabia que você ia me segurar e me dizer que iria mudar, que tudo iria ser diferente e lindo. E eu iria acabar ficando, mesmo sabendo que as coisas continuaram iguais, infelizmente. Mas como eu não achei justo te deixar a ver navios, resolvi escrever uma carta de despedida que também é uma carta-explicação.

O meu plano inicial começou logo após os nossos primeiros seis meses de namoro. Passamos por muita coisa, o mundo conspirava contra nós e tudo indicava que ia acabar dando merda. E você parecia naquela mesma sintonia de ir contra tudo e contra todos em nome do amor. Ou do que quer que fosse o sentimento que nos unia. Mas o tempo foi passando e o encanto inicial foi se perdendo e tomando forma de maturidade. Começaram os desentendimentos, as eventuais discussões e aquelas semanas sem se falar. Um ano. Você pediu um tempo porque não sabia mais o que eu queria, e eu tinha tanta certeza de que queria você (e só você) que chegou a ser ofensivo ouvir aquelas palavras de você. Acho que eu acabei te idealizando e fazendo você de um espelho, achei que você era o mesmo que eu, que sentia como eu. Mas aí eu descobri que não era bem assim.

Dois anos. E tudo começou a ficar mais complicado. As brigas eram mais constantes do que as declarações, e a vontade de te deixar pra trás era muito forte, porém não mais do que o que me prendia a você. Eu pensava todos dias em como te dizer adeus, mas não conseguia encontrar as palavras corretas. Meu medo era de acabar te magoando e morrer de culpa, mesmo sabendo que isso anularia os débitos, porque o tanto que você já me magoou não está no gibi, como diria minha mãe. Mas eu pensava: "porra, cara, eu lutei tanto pra isso dar certo e justo agora vai dar errado? Não, não vai acabar assim". E eu me prendia a qualquer migalha de esperança que encontrasse pelo caminho. Acho que a pior dor não é aquela que a gente sente quando sabe que acabou, mas aquela que a gente sente quando a gente, de fato, enxerga que acabou.

Doeu tanto quando eu comecei a sentir você ausente mesmo quando você estava presente. Você não imagina o quanto foi ruim dizer que te amava, olhando nos teus olhos, e obter como resposta um silêncio ensurdecedor e um olhar perdido. Eu ali, estática, convicta do que sentia e você, estático, demonstrando querer sumir porque não suportava. Acho que foi naquele dia, naquele vinte e três de setembro que eu notei que não tinha jeito: Era largar ou viver sofrendo pelo resto da minha vida. Você, como eu bem sei, não ia conseguir se desfazer de mim. E eu de você. E a gente ia viver pra sempre infelizes por pura covardia.

Três anos. Feliz três anos pra nós, querido. Mas estou (oficialmente) te deixando, embora eu já tenha ido há quase um mês. Me faltou coragem pra te dizer adeus, mesmo estando longe o suficiente pra não ter que suportar a agonia de te ouvir me pedindo pra ficar e prometendo mudanças que jamais se concretizarão. Me perdoa por ser tão covarde. Mas me perdoa do fundo do teu coração! E, se eu te magoei, me perdoa também. Se em algum momento estive equivocada a respeito desses três anos, por favor, me conceda mais um perdão.

Eu tô no Sul do país, se isso faz alguma diferença. Troquei o número do celular, mas ainda podemos trocar e-mails vez em quando. Um dia a gente se encontra, com certeza. Daqui um ano ou dez, mas a a gente ainda vai se encontrar, porque a vida é cheia de encontros, desencontros e reencontros. Eu tô bem. Tô comendo, tomando os remédios direitinho e conhecendo um monte de pessoas bacanas por aí. A garota de papel está se tornando uma garota de verdade. Me perdoa se pra isso eu precisei te deixar pra trás. 

Um comentário:

  1. Porra! Que foda essa despedida, não que uma despedida tenha que ser foda. Mas essa foi realmente linda de tão triste. De tão suplicante de um socorro abafado. Não deu para parar de ler, mesmo sabendo que o fim seria tragicamente o mesmo do início e do meio.
    E deu para sentir muito por todos os casais que, mesmo após bons tempos juntos - mesmo havendo contratempos, porque isso sempre haverá - ainda consigam chegar ao tão temido fim.
    Só que às vezes, esse fim é preciso. Para não ser tão pior do que viver rastejando em busca de um novo caminho para um amor que já tomou seu destino rude.
    Parabéns pelo texto!! Amei demais, mesmo.
    http://escrituras-da-alma.blogspot.com.br/

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