06 fevereiro 2014

Poderia ser você (mas não é).

Poderia ser você, mas o problema é que é ele. É ele o dono do meu coração e de todo o resto. Eu gosto de você, sabe? Gosto do seu sorrisinho torto, do seu olhar descarado, do jeito que me toca, mas eu o amo. Me perdoa por não te amar. Me perdoa por não conseguir deixar que seja você, pois, acredite, eu adoraria. Não precisa jogar na minha cara que ele não presta — isso eu sei de cor e salteado — mas a gente não manda no coração, meu bem. 

Poderia ser você se você me pegasse com ele me pega. Se me jogasse na parede sem me machucar. Se soubesse exatamente onde me tocar — com mãos e palavras — pra me deixar simplesmente sem
reação, apenas fissurada. Poderia ser você se você tivesse aquele sorriso cafajeste e branquinho que só ele tem. Poderia ser você se você tivesse o cheiro dele, porque ainda que você compre o perfume que ele usa, jamais teria o cheiro dele. O cheiro da nuca dele depois do banho ou depois do sexo — aromas que eu não sei explicar, mas que me causam um arrepio do pelinho do dedinho do pé até o último fio de cabelo.

Poderia ser você se você falasse como ele. Se me chamasse de "pequena" sem parecer meloso demais. Poderia ser você se você topasse dançar comigo às três da madrugada em plena Avenida Paulista. Poderia ser você se você me embriagasse de cerveja e vinho barato e, ainda assim, fazer eu achar tudo muito lindo, chique, romântico. Poderia ser você se, ao invés de buquê de rosas, você mandasse uma flor roubada do jardim da vizinha. Poderia ser você se você me fizesse sentir o que ele faz só de chegar perto. Poderia ser você se nossas bocas se encaixassem tão bem quanto a minha e a dele. Poderia ser você se nossos corações se encaixassem, mas, meu bem, o meu encaixe é ele.

Poderia ser você se você fosse ele. Mas não é. Nunca será. Ninguém nunca será. É ele. É ele o dono de mim, dono dos meus pensamentos, do meu prazer mais intenso, dos meus melhores beijos. É que com ele eu consigo ser eu mesma e mais trezentas mil, e ainda assim ele me acha única. É que ele, apesar de ser tantas coisas, ainda consegue ser melhor que o resto da população masculina. É que ele é ele, sabe? Não, você não sabe. Mas eu sei. E é por isso que eu tô voltando pro lugar da onde eu jamais deveria ter saído: tô voltando pro abraço dele. Dele que, mesmo sendo um completo sapo, se transforma em príncipe quando sente o perfume da minha nuca.

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