11 fevereiro 2014

Eu precisei ir pra perceber que só tinha que ter ficado.

Eu voltei. Três anos depois de ter ido pro outro lado do Atlântico, aqui estou eu com essa mesma cara lavada de cachorrinho arrependido, mas, dessa vez, me escuta um pouco. Lembra o que eu te disse naquela madrugada de agosto há três anos atrás?! Lembra que eu disse que estava indo me encontrar, porque aqui eu me sentia perdido, fora de órbita e você me disse que meu lugar era exatamente aqui, na cidade que nunca para, e eu (como de costume) duvidei de ti?! Sei que cê lembra. E quero dizer que você tinha toda a razão do mundo. Eu queria me encontrar num lugar distante, porque aqui as coisas haviam deixado de ter sentido pra mim. Eu havia cansado disso tudo e fui. Fui sem pensar nas consequências, nas perdas e no que eu poderia (não) encontrar quando voltasse — se voltasse. Eu passei por cidades que nem lembro mais o nome, confesso: um lugar mais incrível que o outro. Luzes que iluminavam as vielas, as ruas e as grandes avenidas. Conheci pessoas que, de alguma forma, se tornaram importantes pra mim. Esses três anos pareceram-se mais com três séculos. Foi a melhor e a pior experiência da minha vida.

Três anos é tempo demais, eu sei. Ficar três anos longe, sem contato direto, sem certeza alguma, é coisa demais pra duas pessoas suportarem. Nós aguentamos apenas até o meu embarque, depois dali uma parte de mim tinha certeza que o laço tinha se desfeito e que, daquele segundo em diante, seríamos eu e você. Eu, do outro lado do Atlântico. Você, na Cidade Cinza esperando por mim ou encontrando outros "eus". Eu não faço ideia do que você tem feito durante todo esse tempo; não sei se se envolveu com alguém ou se resolveu esperar. E juro que vou entender se já houver outro ocupando o meu lado na tua cama, porque esperar dói e ninguém merece esperar por aquilo que, talvez, nem volte. Eu sempre fui a incerteza na tua vida, mas eu estava aqui do teu lado te mantendo segura de alguma forma. Só que isso tudo mudou no instante em que eu resolvi que queria me encontrar em outro lugar e, quem sabe, em outra pessoa. Eu te deixei jogada à beira mar com a certeza de que uma onda poderia te levar a qualquer momento, e, pior que isso: levar e nunca mais trazer. Mas eu fui e assumo as consequências dessa atitude errônea.

Quero que cê saiba que eu pensei demais em você durante esse tempo. Eu sei que é difícil acreditar, afinal, eu tinha um mundo todo pra explorar, mas acredite: eu jamais esqueci. Não vou dizer que pensei em você todas as noites antes de dormir, mas garanto que passei muitas noites andando de um lado pro outro no quarto pensando no que você poderia estar fazendo, se, por um descuido, também estaria pensando em mim. Eu não vou te pedir perdão, porque seria demais pra você e pro seu coração de mãe que sempre faz caber mais um. Eu só vou pedir pra que entenda que às vezes a gente precisa ir pra muito longe pra perceber exatamente onde é o nosso lugar — foi assim comigo. Eu achei que não havia mais nada pra mim nessa cidade, mas percebi que tudo que eu precisava morava no Jardim das Laranjeiras. Eu precisei ir pra muito longe pra descobrir que tudo aquilo que eu precisava e não encontrava dentro de mim estava no apartamento número 105. Eu só precisava de você, mas nunca fui homem suficiente pra admitir isso e assumir o tranco de ter um mulherão do meu lado. 

Talvez agora seja tarde e eu não vou te culpar caso você tenha trocado as fechaduras da sua casa e do seu coração. Mas saiba que eu tô aqui, que eu voltei e que você pode bater lá em casa quando precisar de um ombro amigo ou de qualquer outra coisa. Eu só quero que cê saiba que eu tô aqui, mulher, e que eu quero, de alguma forma, te recompensar por esses três anos de sofrimento que eu te causei. Te recompensar por ter destruído os sonhos que nós sonhamos juntos. Te recompensar em forma de sorrisos por todas as aquelas lágrimas que você derramou naquele aeroporto. Eu quero tentar remendar o teu coração que eu fiz a burrice de partir. Eu quero, mais que tudo, poder te fazer algum bem depois de todo mal que eu te causei. Então, por favor, deixa?! Eu não tô querendo entrar na tua vida pra bagunçar aquilo que você levou tanto tempo pra arrumar, eu só quero um espacinho na janela pra poder te ajudar com qualquer coisa, sabe? Eu preciso ajudar a estampar um sorriso no teu rosto pra poder me perdoar por ter sido tão burro e rude contigo. Não precisa me perdoar não, mas tenta me entender. E deixa eu entrar na tua vida aos pouquinhos, deixa?! Me desculpa, mas eu precisei ir pra perceber que só tinha que ter ficado. E eu não me orgulho dessa escolha.

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