28 janeiro 2014

Sobre mudar e crescer.

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Eu mudei e não foi só de casa e de cidade — alguma coisa dentro de mim também mudou. Mudar é uma palavra um pouco assustadora e desafiadora. Afinal, quando é que nós realmente mudamos? Depois de uma decepção amorosa? Depois de receber uma oportunidade incrível e ter que mudar todas as certezas de lugar? Depois de receber uma puxada de tapete daquelas e se ver na obrigação de se levantar e virar o jogo? Bem, eu mudei depois de ter passado por todas as situações que acabei de citar. 

Chegou um momento em que eu me olhei no espelho e não me reconheci. Meus olhos haviam perdido o brilho, o meu sorriso havia perdido o sentido e o meu corpo parecia apenas uma carcaça. Era como se tudo estivesse vazio por dentro. As coisas mais importantes acabaram se tornando não tão importantes assim. As dores, que antes torturavam, pararam de doer e se tornaram apenas feridinhas, cicatrizes. O colo da minha mãe já não curava tudo; as cobranças, não só que vem as dos outros, mas também as que vinham de mim, se multiplicaram por mil. As certezas deixam de ser absolutas; os segredos se tornaram cada vez mais restritos; confiar nas pessoas já não era tão fácil quanto antes, e eu já via as coisas um pouco além do que costumava ver. Foi nesse momento em que eu finalmente percebi que havia mudado, e que não adiantaria negar: as pessoas ao meu redor também perceberam. 

Me assustei com a minha mudança. Como pode uma pessoa mudar tanto? Foi o que eu me perguntei. Mas isso faz parte de um outro processo ainda mais assustador: Crescer. É, eu cresci também. Nos auge dos quase dezessete anos as coisas mudam um pouco. As preocupações não são apenas com a tarefa insuportável de Matemática, mas também com o vestibular. Com o futuro. Com a futura carreira. Agora as pessoas não me olham mais como uma bonequinha, e nem minha mãe passa a mão na minha cabeça, porque agora, segundo os adultos, eu sou já sou mocinha crescida e tenho que arcar com as consequências dos meus atos. Não, eu não sou e nem fui uma adolescente inconsequente ou irresponsável, mas eu nunca gostei de ter que cuidar de mim sozinha e, veja bem, hoje eu cuido. E cuido bem.

Eu sou nova, eu sei. Sei que ainda tem toda aquela conversa de "ah... você tem muito o que viver ainda". Eu sei disso e eu concordo plenamente. E eu vou mudar mais centenas de vezes e crescer outras centenas, e sempre vou olhar pra trás e pensar que eu era ingênua demais. Mas agora, nesse exato momento, eu sinto que cheguei no fim dessa fase da minha vida. Eu passei anos da minha vida sonhando com a vida que eu levo agora. Uma vida onde existem amigos, liberdade e vontade de vencer. Uma vida onde as paixonites doem menos do que uma DP em Química. Uma vida onde a minha maior preocupação é minha própria vida.

Eu vejo o mundo de um ângulo diferente. O amor, na minha concepção, já não é como nos filmes da Disney. As pessoas já não precisam ser iguais a mim para me conquistar, seja como amigo ou como algo mais. A mania de não querer magoar ninguém, eu já perdi; porque aprendi que mágoas criadas com a verdade, passam. Mas aquelas que são criadas e nutridas pela mentira, essas sim geram cicatrizes eternas. Eu aprendi que por mais amigos que você tenha sempre haverá um momento em que será você e você mesmo, frente a frente. Aprendi que não dá pra fugir de si mesmo, mentir pra si mesmo, driblar a si mesmo — a gente sempre tropeça na própria trapaça. Aprendi a ser paciente, e posso dizer que esse foi o maior presente que essa mudança me trouxe. Paciência ao falar e ao escutar também. Paciência ao agir. Pensar uma, duas e até três vezes (se for necessário) antes de tomar alguma atitude. Principalmente se essa atitude disser respeito a outra pessoa ou a algo que possa mudar meus caminhos. Paciência pra viver esses dias tão loucos que a vida me proporciona.

Mudar me assustou. Crescer também. Mas no final eu acabei gostando. Foi bom ter evoluído, ter mudado os conceitos, ter recuperado o brilho dos olhos. Foi bom ter saído da zona de conforto e ter metido a cara no mundo. Foi bom ter saído do mundo cor-de-rosa e criado coragem pra enfrentar um mundo cinza, mas que às vezes fica colorido e isso só depende de mim. Hoje eu posso afirmar que mudanças são boas, apesar de serem duplamente assustadoras.

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